O talento é uma
vantagem não democrática
Será que em alguns momentos a conquista pelo esforço tem
mais valor que a conquista pelo talento?
Hoje vivemos a magia Copa do Mundo do Catar onde a mídia
supervaloriza a conquista pelo esforço e por essa razão assistimos inúmeras
histórias "sofridas" de grandes atletas... "esforçados".
Não há nada de errado em valorizar o esforço e publicar
exemplos vencedores.
Mas isso remete uma nação inteira a possibilidade do sonho
alcançado, lugar em que todos podem chegar, mas isso transforma-se numa "falsa"
realidade democrática.
Pois na realidade não existe lugar para todos no "topo
dos esportes", independente da modalidade escolhida e praticada.
É normal que a maioria não alcance tal lugar, e nem por
isso, as pessoas se tornarão incompetentes ou fracassadas.
Ainda nesse contexto nos deparamos com os talentos, aqueles
atletas que conquistam nossa admiração, um sentimento que nos ultrapassa e nos traz
a alegria, nos afastando da inveja, mesmo sabendo que jamais faremos algo
semelhante ao seu feito.
É impossível ensinar o talento, nenhum treinamento vai
transformar alguém num talento, não existe receita para se criar um talento,
por isso ele não é a realidade para todos e assim se torna não democrático.
Não é possível vender o talento, não é possível comprar o
talento, sendo essa uma verdade, ele não se enquadra no modelo comercial e
capitalista do mercado.
Por consequência as histórias dos talentos perdem lugar para
as histórias de superação e esforço, pois através desta existe uma
possibilidade de promessa, de venda ou de compra para a transformação do ser
"normal" para um ser "talentoso".
Para exemplificar basta pensarmos que nenhuma nação do mundo
conseguiu criar um talento chamado Pelé, possuidor de uma vantagem legítima não
comprada nas prateleiras de oportunistas.
Encerrando o texto e iniciando uma reflexão, quero deixar
claro que as histórias dos talentos são sensacionais, certamente envolveram
sacrifícios e dedicação, muito trabalho e entrega, mas isso não é produto ou
serviço que se venda.
E também quero registrar que as histórias dos esforçados são
singulares e não cabem nas vidas de cada sonhador, que terá que viver seus
desafios particulares, sem receitas de sucesso vendidas em ofertas mentirosas
para alcançar o "topo dos esportes".
Anderson do Prado-Pinduca
Psicanalista e Personal Trainer
@pinducaprado